Missão (Im)possível: cinco biografias caras à cidade de Madrid

Alexandre Muscalu

Só a Descubra Madrid oferece a possibilidade de cruzar os pontos turísticos e culturais da cidade histórica de Madrid com um professor brasileiro de história, filosofia e ciências sociais que estudou turismo na Espanha. Com certeza uma experiência instigante. Alexandre, que tem nacionalidade espanhola, é também Mestre em ensino no Brasil, metodologia para compartilhar informação e o desejo de se divertir com seu grupo enquanto desvenda a cidade não irão faltar.

25 de abril de 2022

No texto publicado anteriormente, sobre obras primas do Museu do Prado, já havia resultado numa eleição difícil, mas com realização facilitada pela lista ampla que dela tiramos. Agora, nossa editoria nos propõe uma seleção de  cinco personagens da história madrilenha e daí a tarefa se converte em dificílima. Contudo, desafios fazem parte da vida e na realidade gostamos deles. Separamos cinco personalidades de contextos sociais distintos procurando representar classes sociais e gêneros diversos. Esperamos que gostem da nossa indicação; segue ela.

Carlos III  (1716 – 1788)

Carlos III

O rei-prefeito de Madrid nasceu numa madrugada fria de 20 de janeiro, dia de São Sebastião. Aparentemente não lhe passava pela cabeça ser rei porque era o filho de Isabel de Farnesio, a segunda esposa do primeiro rei da dinastia dos Bourbon na Espanha, Felipe V. Os seus irmãos Luís I e Ferdinando VI morreram. Ele administrava os bens espanhóis na Itália e foi ungido ao trono juntamente com a sua esposa Maria Amália da Saxônia. Ainda na Itália rodeou-se de uma equipe competente e quando partiu, segundo consta, o povo napolitano despediu-se dele com aplausos. Uma vez em Madrid, tornou-se o chamado ‘rei prefeito’ devido ao seu despotismo ilustrado, convencido de melhorar a sua corte e as características arquitetônicas da capital.

De aspecto afável, a sua vida pessoal foi regrada e durante o seu reinado o país conviveu com paz e desenvolvimento. Um conflito com a Inglaterra sobre o domínio das Honduras, a perda do Quebec para a França e a sua participação na independência dos Estados Unidos levaram-no a abandonar os seus postulados pacíficos, mas ainda assim lhe garantiram bons frutos na geopolítica internacional. Quando a rainha morreu, comenta-se que ele tenha dito: “Esta é a primeira vez que ela me dá um aborrecimento”. Algo que define o seu modo de ser. Sua viuvez contribuiu para que se dedicasse à zeladoria madrilenha impulsionando a construção das fontes das Cibeles e Neptuno, o Observatório Astronômico, o término do Palácio Real, o Museu do Prado (ainda um museu de ciências), o jardim botânico e a icônica Puerta de Alcalá – todos símbolos castos da cidade que monumentaliza seus feitos na estátua equestre que preside a praça Puerta del Sol.

Valle Inclán (1866-1936)

Foto extraída de escritores.org

Certa vez, passando em frente a um cemitério, viu que estavam levantando uma grade. Procurou o encarregado e recomendou: Não insista com a tolice dessa grade. Os que estão dentro não pensam sair e os que estão foram não pensam entrar. 

Valle Inclán fez em vida juz ao seu signo: escorpião. De uma família de ascendência nobre galega, tomou de um antepassado famoso, Francisco de Valle Inclán, seu nome artístico, havia nascido Ramón Valle y Peña. Sua infância e juventude passou na Galícia, onde viveu em diversas cidades até formar-se em Direito, em Santiago de Compostela. Quando adulto e logo após a morte de seu pai, mudou-se pela primeira vez para Madrid (cidade que nunca se estabeleceu em definitivo e tampouco a abandonava, relação de amores e ódios). Entre idas e vindas, morou no México, em Cuba, na França e também na Galícia, com a qual tinha uma relação afetiva parecida com a tresloucada que levava com a capital espanhola.   

Dotado de um sarcasmo corrosivo como os mais poderosos ácidos, Inclán colecionou na sua boemia muitas amizades e desafetos. Perto dos trinta anos lançou sua primeira obra, Femeninas, que se tratava de seis relatos amorosos nada a ver com o do romantismo daquele século, estavam mais para ‘cinquenta tons de cinza’ melhorado.  Além do azedo humor era atraído pelo irracional e esotérico. Nas suas obras deixou-nos provas abundantes do seu interesse e fascínio por fenômenos sobrenaturais e pela cabala. Em muitos aspectos, é um escritor típico do fim do século XIX, mas sempre original. Terminada a segunda década do século XX, iniciou um movimento estético inspirado no Bauhaus alemão e no teatro do absurdo francês que na Espanha ganhou o nome de Esperpento, sinônimo de grotesco, vulgar como a cidadania média espanhola segundo seu juízo. Agora, duas marcas inconfundíveis do escritor galego era sua enorme barba e a ausência do braço esquerdo que nunca foi honestamente revelado seu motivo; mais uma das muitas criações fantásticas deste homem das mil máscaras. 

Penélope Cruz (1974)

Penelope Cruz

A atriz tem uma história digna de um roteiro de cinema. Nascida em Alcobendas, filha de um vendedor de automóveis extremenho e de uma cabeleireira andaluza, o seu sonho de brilhar começou quando viu ‘Ata-me’ aos 13 anos de idade. A partir desse momento, sabia que o seu destino era ser atriz e filmar com Almodóvar, diretor do filme. Preparou-se cuidadosamente: nove anos de ballet clássico, aulas de dança e jazz, estudos de representação e um número interminável de castings. A sua sorte mudou quando ela estrelou no clipe de ‘A Força do Destino’, da banda Mecano. Tornou-se na época namorada de Nacho Cano e também viu sua carreira deslanchar.

Ao apresentar ‘La Quinta Marcha’, com Jesús Vázquez, alcançou o estrelato com o picante ‘Jamón Jamón’, de Bigas Luna. Durante a rodagem do filme, conheceu Javier Bardem, seu marido e outro ícone madrilenho e do cinema espanhol. A sua primeira experiência com os Oscars foi com Fernando Trueba e seu filme ‘Belle Époque’. Depois veio Amenábar, com ‘Preso na Escuridão’ e Almodóvar com ‘Carne Trêmula’. Um pouco mais tarde, premiou-lhe com um Oscar que ficou famoso com sua entusiasmada surpresa: Pedro, Pedro! Deu o salto para Hollywood com ‘Vanilla Sky’ e engatou uma sequência com ‘Blow’, ‘Gothika’ e ‘Sahara’. Seus casos amorosos com Matthew McConaughey e Tom Cruise contribuíram para que se tornasse conhecida mundialmente. O seu grande desafio na academia estadunidense foi o de trabalhar com Woody Allen. Com o nova-iorquino, conseguiu um Oscar histórico para ‘Vicky, Cristina, Barcelona’ depois de ter sido nomeada para ‘Volver’. Em 2010, casou com Bardem na ilha privada de Johnny Deep e desde então tem combinado o seu papel de mãe com o de uma estrela internacional de cinema. 

José Ortega y Gasset (1883 — 1955)

Ortega y Gasset

Ortega y Gasset nasceu no século XIX, em Madrid, numa família de intelectuais cujo avô tinha fundado o jornal ‘El Imparcial’, existente até hoje e dirigida por descendentes da família. Esteve muito envolvido no mundo da política e do jornalismo desde criança. Logo começou a destacar-se na imprensa como colaborador do ‘El Sol’, após ter estudado na Universidade Complutense e na de Deusto. As suas ideias, uma mescla de liberais e conservadoras lançaram as bases do conceito “a razão vital” Esta filosofia defendia a proteção homem frente a emergência da sociedade de massas estabelecida nos anos 1930. Um bom exemplo deste pensamento é uma das suas mais conhecidas obras, ‘A Rebelião das Massas’, publicada em partes no ‘El Sol’. Foi contemporâneo e amigo de personalidades como Unamuno, Azorín ou Pío Baroja.

O seu perfil liberal causou-lhe graves problemas em tempos de intolerância e, embora tenha abraçado a causa republicana, proferiu um discurso conhecido como Retificação da República. Dias após ao levantamento militar que conduziu à guerra civil (1936-39), Ortega recusou-se a assinar um manifesto a favor do governo republicano de esquerdas de então. Preferiu apoiar outra publicação mais moderada em apoio à República assinada por Gregorio

Marañón, Ramón Pérez de Ayala e outras lideranças políticas do seu entorno. Exilado durante o conflito, zanzou por Paris, Holanda e Argentina. Em 1942 mudou-se para Lisboa como um passo anterior ao seu regresso a Madrid, onde morreria em 1955.

Manuela Malasaña (1791 – 1808)

Manuela Malasaña

Poucos dos hipsters que se aglomeram em torno do antigo bairro de Maravillas conhecem a história da mulher corajosa que deu o seu nome a esta zona desde os anos 1980. Manuela era a filha de um vallecano de origem francesa chamado Jean Malesange. Este padeiro tinha a sua padaria na Rua Divino Pastor, a poucos metros do famoso quartel de Monteleón, onde Daoíz e Velarde, oficiais no mesmo batalhão,  tentaram resistir à carga das tropas de Napoleão durante o 2 de Maio de 1808. Manuela trabalhava num ateliê de costura na Rua San Andrés. A sua vida tranquila passou por uma definitiva reviravolta neste mesmo dia. Quando as revoltas começaram, ela estava no seu local de trabalho e a sua chefa a manteve em segurança na oficina até que o barulhos das balas cessaram. Ao cair da noite, Manuela aventurou-se a entrar naquele bairro que havia se convertido numa zona de guerra.

Poucos passos depois ela se deparou com uma patrulha francesa. Esse momento é debatido entre a lenda e a história. Alguns dizem que as tropas napoleônicas tentaram violar a pobre moça e que ela se defendeu com um par de tesouras de costura. Também é possível que os franceses a tenham prendido simplesmente por transportar estas tesouras, que ainda hoje são consideradas uma arma. Embora haja ainda uma outra versão que assinala que ela morreu no cerco francês ao quartel enquanto fornecia munições ao seu pai. A única coisa irrefutável é que em 2 de Maio ela foi executada juntamente com outras 400 pessoas. A sua história mereceu uma rua no bairro de Maravillas, que no final do século XX, modernos enchiam de cultura a vida noturna da região. Pouco a pouco, o costume de se referir a este epicentro da movida madrilenha (geração dos anos 1980) foi-se espalhando, e o nome desta personagem maravilhosa vem sendo usado para se referir a ele.

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